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Artigo: Tratamentos Oncológicos

24 jun 2019 • admin

por Drª Andreza Wildberger

Até pouco tempo, a palavra câncer não era pronunciada. Remetia a um mau agouro, risco de “pegar” a doença e fatalmente sucumbir a ela, porque essa “maldita” sempre vinha com desfecho de morte. Era como se o laudo com o resultado viesse acompanhado de um atestado de óbito. Agora não mais. A evolução no conhecimento da origem e na forma de tratamento dessa doença, independente da região de acometimento, vem crescendo de forma tão rápida e satisfatória, que num futuro próximo todos os mitos serão quebrados e desfeitos.

Utilizada pela primeira vez por Hipócrates, pai da Medicina, a palavra câncer vem do grego karkínos, que significa caranguejo, pois as células cancerígenas que se espalham pelo corpo se assemelham às patas do animal. Também conhecido como neoplasia maligna, câncer é o nome dado a um grupo de doenças que apresentam em comum o crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos. A doença era tratada de forma generalista: todos que desenvolvessem câncer de mama, por exemplo, seriam tratados com determinada medicação. E assim, acontecia para ocorrência em qualquer parte do corpo, praticamente uma “regra”. Com o avanço teórico diário da oncologia, pode-se tratar cada paciente de forma individualizada, não somente pelo tipo de câncer que possui ou pela origem dele, mas pela característica molecular de cada célula que desenvolveu o tumor. Essa particularidade permite que a célula “doente” seja atingida de forma mais rápida e específica, trazendo maior efetividade e, consequentemente, menor efeito colateral, uma vez que menos células saudáveis serão atingidas.

As medicações mais utilizadas atualmente são conhecidas como: 1) terapia alvo molecular, que atuam especificamente na biologia da célula tumoral, permitindo o bloqueio de sinalizações que a tornam agressiva, maligna e capazes de se disseminar (metástases). 2) imunoterapia, que vem ganhando cada vez mais espaço, irá atuar diretamente no nosso sistema imunológico, fazendo com que as proteínas que ficam na superfície da célula tumoral (de forma invisível quando alteradas) sejam destruídas e, desta forma, o sistema de defesa natural do organismo possa reconhecer, atacar e destruir as células doentes.

Certamente dispomos de um arsenal de estratégias e mecanismos reconhecidos e comprovados internacionalmente que, ao serem utilizados de forma assertiva e efetiva, trarão cada vez mais benefícios e resultados positivos para o tratamento do câncer.

Sempre que um tratamento para o câncer é proposto, seja medicamentoso, radioterápico ou cirúrgico, seja no setor público ou no sistema de planos de saúde, uma validação criteriosa é necessária. Ao prescrever um tratamento, o médico solicitante deve enviar todos os documentos disponíveis, como laudos de exames, biópsias, relatórios cirúrgicos, tratamentos instituídos anteriormente, descrição do quadro clínico e estágio atual da doença, para a operadora de saúde, para reanálise detalhada de todo o quadro evolutivo da doença.

Este processo consiste em avaliar a pertinência técnica, ou seja, verificar se a medicação está adequada para patologia apresentada, se há estudos bem fundamentados que mostrem o benefício no seu uso durante o estágio em que a doença se apresenta e se a medicação já está validada para uso no Brasil junto ao Ministério da Saúde e ANVISA. Somente de posse de todos os dados e informações pertinentes, com estudos e parâmetros necessários, a área técnica da operadora pode avaliar com maior segurança a pertinência da solicitação do médico prescritor, visando ofertar sempre o melhor tratamento possível para o caso em questão, com os melhores resultados.

Infelizmente, é comum observarmos indicações de tratamentos não adequados para o caso, sem os exames necessários que corroboram o uso do medicamento prescrito, prescrições de drogas não compatíveis com o estágio da doença e/ou com a fase do tratamento, indicação de medicamento em fase experimental ou que não estão aprovados no Brasil, ou ainda não indicados em bula para o tipo de câncer a ser tratado. Neste ponto, o oncologista, especialista da área, exerce papel fundamental, pois deve sempre ter a ciência dos limites de qualquer tratamento a ser instituído e definir junto com o paciente e/ou com os familiares o momento e a sua forma de aplicação, buscando conciliar a eficácia do medicamento com a qualidade de vida que pode oferecer ao paciente.